segunda-feira, 23 de maio de 2011

Mudei =)

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Passa lá!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

HAI

Eis que nasce completo
e, ao morrer, morre germe,
o desejo, analfabeto,
de saber como reger-me,
ah, saber como me ajeito
para que eu seja quem fui,
eis o que nasce perfeito
e, ao crescer, diminui.

KAI

Mínimo templo
para um deus pequeno,
aqui vos guarda,
em vez da dor que peno,
meu extremo anjo de vanguarda.

De que máscara
se gaba sua lástima,
de que vaga
se vangloria sua história,
saiba quem saiba.

A mim me basta
a sombra que se deixa,
o corpo que se afasta.

-Leminski

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Maria

Santa Maria é onde eu cresci. Em seu asfalto cresceu meu caráter, em suas paredes mal pintadas nasceram meus sonhos, em suas casas velhas meu amor. Os olhos perscrutam o nada além do conviver, as vidas anseiam apenas suas próprias criações. Não há tamanha ambição, não há ódio suficiente; só há Santa Maria. Em algum banco de concreto, encostado na parede, as mães ensinam aos filhos o que verão ao sair de casa; os pais trazem com alegria qualquer brinquedo, pensam na satisfação dos seus, no singelo sorriso que os recompensa. Ali é aonde criam-se as vidas. Nascem já sobrevivendo, lutam como já não houvesse ontem.

Um bêbado que bate de porta em porta, pedindo algum trocado. Algum chefe de família que me conta de seus cinco filhos, morando em algum lugar longínquo, pedindo, por-amor-de-Deus, que o ajude. É bem-vindo, sempre. Domingo o vizinho chama a família, comemora sem-razão, comemora apenas. Os meninos andam de bicicleta, montam traves de madeira, servindo de gol. Começam a jogar e já são grandes amigos. Rivalizam pequenas causas; brincam de pequeno mundo.

As ruas de terra já deixaram de ser, deram lugar ao concreto e ao asfalto. Não reconheço a paisagem, mas é decerto parte de mim. Ali repousa o mesmo cheiro, o mesmo calar da tarde diante do barulho da estrada que espreita. Ali repousa os primeiros pingos de chuva, meus óculos embaçados pelas gotas, a corrida de volta para casa. Também estão os meninos que deixaram de ser; nunca o foram, na verdade. Vagaram de chão em chão. Juntaram-se a ele, ao final. São partes da sobrevida. “Aonde estão seus pais, aonde eles moram?”, perguntava-me. Não moravam, eles nunca existiram. Pedaço que jamais se encaixa.

Final de semana iria ao clube, conhecia outros tantos que não havia visto. Agora os tinha, sabia de suas vidas. Cresciam ao meu lado, eram parte do meu castelo de sonhos, todo feito de gente; vivia os que ao meu lado estavam, mesmo que não soubessem: eles nunca foram em vão. Os via em cada casa que não conhecia, acenava para eles nas janelas que estavam vazias. Percorria as ruas e podia vê-los correr ao meu lado... Ainda posso.

As negras, pequenas pedras na rua doeram meus pés. Fizeram calos e já os vejo quando acordo. Cada esquina tem meu nome, e são minhas, todas. Falam melhor que quaisquer palavras. São testemunhas, são parte de mim. Foi ali que nasci, e é pra lá que volto, todos os dias.


01/10

domingo, 3 de janeiro de 2010

Mar, céu, Ilha

Esconde no silêncio
O mar de incertezas
Quantas serao?, pergunto-me.
Nos cabelos, uma flor,
Nos olhos o terror,
O medo, a dor;
Mera indiferença.
Carregas em ti
Os olhos meus?,
Ou são tuas
Todas as minhas perguntas?
É teu rosto
Minha aventura,
São teus silêncios
Meu último descanso.

01/10

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

[O rei está nu...]

O rei está nu,
Meus caros.
E o reino está abandonado,
Entregue ao acaso.

Dizem que anda pelas ruas
Nas madrugadas frias de Setembro;
Não há som ou voz conhecida,
Vaga pela boemia
Como que buscando expiar seu próprio pudor.

O rei está nu,
Meus caros.
Entregue à sua própria tragédia
Transfigurada em prazer.

Está fora de si,
Vê imagens e figuras nas paredes,
Ouve vozes nas noites insanas,
Entre risos e gritos.

O rei abriu mão de seu trono
E não há quem governe seu reino.
Abriu mão de seu martírio,
Entregou-se ao riso
Para não sucumbir ao pranto.

Encontraram-no em terras inférteis.
Dizia que ali fora feito homem,
Sangue de afeto,
Semblante endurecido.
Reclamava a terra como parte de seu corpo.

O rei está nu,
Meu caros.
E o reino está nas mãos de nossos invasores.

09/09

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Silêncio

Fecho meus olhos nesta noite,
Ouço a chuva lá fora
Convidando-me ao sonho.
Ah, se tudo fosse essa noite...

Silêncio,
Meus inimigos querem dormir.
Pela manhã penso em encontrá-los;
E se minha morte é certa,
Peito aberto,
Junto meus restos
E me entrego à crueldade.

À noite refaço minha humanidade.
Durmo,
Pois pela manhã seguinte encontrarei meus inimigos.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Tive todos meus pesadelos essa noite.
Um a um, todos temi.
A dor, o medo, o sofrimento,
Retorcia-me em face de tamanho desprezo.
Via o sol tornar-se negra silhueta,
Agia e não sabia o porquê.

Surdo mundo dos sonhos,
Invadia o dia.

Toda minha ira transformava-se em nada;
Tirou-me os mais queridos,
Lembrou-me dos esquecidos.

Pôs fim em toda a história,
Foi espelho aonde eu queria esquecer.

O sonho foi chegando ao fim,
O dia já nascia.
Se acordei, não sei.

Assim esses versos
Vão findando,
Sem nunca haver um fim.